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Erasmo de Roterdã. |
É
comum acharmos que existem muitas heresias nascendo o tempo todo, mas não é
verdade. O Pelagianismo, por exemplo, pode ter sido a última das grandes heresias que nasceram neste mundo caído. Depois dele, Pelágio, os hereges – ( esses
sim, não param de aparecer ) - têm simplesmente requentado ou reformulado e
reformatado de maneiras diferentes as antigas heresias.
Pelágio,
é totalmente diferente, ele criou um falso ensino que desafiou a Igreja a
considerar questões que antes tinham sido dadas como garantidas e certas, e
infelizmente, Pelágio tem uma influência enorme na igreja visível de nossos
dias. Nós podemos dizer, não sem espanto, que os ensinos de Pelágio – o grande
herege – é considerado para muitos cristãos
com ortodoxia – e isso é uma tragédia, porque o pelagianismo representa
um desvio completo e fatal do ensino da Escritura.
Em
Pelágio nos encontramos com uma heresia que se foca principalmente na natureza
do homem – os efeitos da Queda e a natureza da vontade do homem. A questão
final é a salvação – portanto, não estamos falando de algo periférico, mas
central.
A
questão final, é se a salvação é, em última instância, uma questão da vontade
de Deus ou uma questão da vontade humana. Deus simplesmente faz uma oferta de
salvação que os seres humanos podem
escolher se aceitam ou não, ou Deus realmente salva as pessoas?
Pelágio
é a versão latina do nome de um monge britânico cujo nome, provavelmente era
Morgan. Tendo sua origem no País de Gales e ligado ao mosteiro de Bangor-on-Dee,
próximo de Wrexhan. Pelágio nasceu mais ou menos em 360 dC e morreu em 418 dC.
Como um monge extremamente devoto, ele foi dedicado a viver uma vida de
ascetismo, procurando viver uma vida santa. Além disso, Pelágio era um homem
culto, como muitos monges naqueles dias, estudando teologia e línguas eruditas.
É dito que Pelágio era fluente em latim e grego, assim como em sua própria
língua britânica.
A
heresia tende a ser muito mais perigosa quando nasce de homens assim...
preocupado com “santidade” – com belo discurso, bom orador. É dito que ele era um homem alto e bonito,
com voz potente e melodiosa que ele usava com extrema habilidade. Ele atraía
pessoas tanto por suas qualidades pessoais, quanto pelo rigor de sua vida
monástica – vista como um compromisso com santidade.
Em
360 dC Pelágio se mudou da Grã-Bretanha para Roma, capital do Império Romano do
Ocidente e um importante centro eclesiástico – e em Roma ele encontrou uma
audiência muito mais ampla para sua pregação eloquente. Sendo um moralista por
natureza, instava as pessoas a viverem uma vida boa, autocontrolada e piedosa.
Fluíam para Roma pessoas de toda a Europa, África e Ásia. Alguns eram devotos
como Pelágio, mas outros eram o oposto – moralmente depravados – como em todas
as grandes cidades.
Pelágio
ao procurar a razão da pecaminosidade de Roma, começou elaborar seu erro fatal.
Na época, os escritos de Agostinho, grande teólogo africano, eram muito
populares. Seguindo o Apóstolo Paulo, Agostinho enfatizou a soberania da graça de
Deus na salvação e na vida cristã. E uma
frase em particular de Agostinho chamou atenção de Pelágio: “Ó Deus, concedes o
que ordenas, ordenas o que quiseres.”
Como
todos os adversários do Apóstolo Paulo nas páginas do Novo Testamento, Pelágio
ficou muito preocupado que toda essa conversa sobre como somos salvos pela
graça somente e não por obras, pudesse sugerir que nossas obras não importam de
maneira nenhuma. Pelágio pensou ( e como é comum isso hoje ): “Se a graça de
Deus é glorificada na salvação de pecadores totalmente indignos, isso não
poderia ser usado como uma desculpara para o pecado?” Paulo já deu uma resposta
a tal abuso das Doutrinas da Graça, dizendo: “cuja condenação é justa” ( Rm 3.8
).
Pelágio
chegou a conclusão que o abuso significava que Agostino tinha que estar
errado, e a salvação do homem deve, afinal, depender de algo no homem. Deus nos
dá seus mandamentos, portanto, devemos ter a capacidade de realiza-los e nosso
desempenho deve contribuir para a nossa salvação. Isso não só lhe pareceu
resolver o problema, com se encaixava no seu modo de vida monástico ascético.
Todo cristão, ele ensinou, deve viver assim, como ele. Normalmente, como vemos
hoje, esse raciocínio é feito totalmente sem a Palavra de Deus, mais com
argumentos puramente humanistas e depois se tenda achar algo para dar uma
roupagem bíblica.
No
centro desse erro está o fato de que Pelágio sofria profundamente de uma compreensão totalmente e
fatalmente simplista do pecado – na verdade ele não tinha ideia do PECADO como
tal, apenas de pecados – atos individuais e separados – atos separados de
desobediência à boa Lei de Deus.
Então
Pelágio começou ensinar que todo homem é criado como Adão, livre do pecado e
igualmente capaz de escolher o bem e o mal. Ele negou tal coisa como uma inata
inclinação ao pecado, e atribuiu o fato observável de que o mundo todo peca,
tão somente por causa da força do mau exemplo.
Mas
não apenas isso, ele não atribuiu realmente nenhum peso à questão do caráter
moral humano – contudo, como é óbvio, esse é um ponto vital, pois as escolhas
morais não são atos isolados da vontade equilibrada entre o bem e o mal, mas
atos de uma pessoa que tem uma história, preferências, desejos e inclinações
morais escravizadas pelo pecado. Se, por outro lado, o pecado é apenas uma
questão de atos individuais e separados da vontade ( essa sendo livre ) – as
pessoas pecam tão somente por causa de maus exemplos ao seu redor, então, a
virtude também é uma questão apenas de atos individuais e separados da vontade,
guiados por bons exemplos.
Isso
se tornou, no ensino de Pelágio, a função das Escrituras. A Lei nos diz o que
fazer – dizia ele – e o Evangelho nos mostra o bom exemplo da obediência de
Cristo ( O Evangelho foi resumido em bom exemplo – não em algo que Cristo fez e
fez sozinho ) – São "boas notícias" – ensinou ele – porque nos diz que podemos
guardar a lei depois de tudo – se quisermos de verdade – e não porque seja a
mostra de uma justiça que vem de Deus como um dom gratuito. Ele chegou então a
ensinar que alguns personagens bíblicos, como Daniel, por exemplo, viveram
livres do pecado em praticamente durante toda a vida.
A
lógica interna dessa falsa posição era que não apenas era possível, mas na
verdade necessário, que as pessoas deixassem de pecar assim. Tendo assim
cessado o pecado, um cristão se torna aceitável a Deus por sua própria vontade
e mérito. Por direito. O cristão continuava a lutar contra o peado e também se
considerava um pecador salvo pela graça – mas de acordo com Pelágio – era
diferente do pagão, pois não se animava no pecado e o controlava por sua
vontade.
De
acordo com Pelágio, o cristão precisa da graça de Deus para a salvação, mas ele
redefiniu a graça de Deus para significar o LIVRE-ARBÍTRIO que Deus deu a todas
as pessoas e o DOM da PERFEITA LEI MORAL e EXEMPLO de Cristo. A Graça de Deus era, em outras
palavras, uma questão de um dom que era comum a toda a humanidade. Quem
quisesse usá-los...
Em
410 dC, Roma foi atacada ferozmente por uma força de visigodos sob a liderança
de Alarico, que estava procurando vingança pelas atrocidades cometidas contra
os visigodos por instigação do imperador romano. A destruição resultante em
Roma foi bastante suave pelos padrões antigos, apenas alguns edifícios foram
queimados, igrejas foram poupadas e não houve massacre em massa – mas no
entanto, isso teve um enorme impacto psicológico, e muitas pessoas deixaram a
cidade logo depois. Pelágio estava entre essas pessoas. Ele atravessou o
Mediterrâneo até Cartago, no norte da África, não muito distante de Hipona,
onde Agostinho era bispo desde 395 dC.
Agostinho é simplesmente a grande figura do
cristianismo ocidental – toda a teologia subsequente no Ocidente se baseia em
seu vasto e robusto trabalho. Ele nasceu
em Tagaste, na Argélia moderna, em 354 dC. Sua mãe, Mônica, era cristã e seu
pai, Patricius, era pagão. Agostinho era um rebelde selvagem em sua juventude,
mas não desperdiçou seus talentos. Ele se formou em professor de retórica e se converteu em 386 dC, quando morava e trabalhava em Milão.
Ele
retornou a África em 388 dC e em 391 dC ele foi ordenado Presbítero na cidade
de Hipona Regius ( Também na atual Argélia), onde atuou como bispo assistente
até ser consagrado Bispo da cidade em 395. Sempre sendo um pensador profundo, em
410 dC ele já era o maior teólogo ocidental.
Agostinho
era muito diferente de Pelágio. Enquanto Pelágio tinha muito pouco senso de
pecado ( em sua ideia de santidade ) e
vivido muito tempo como monge, Agostinho tinha as amargas e profundas
lembranças de uma vida cheia de pecados, e lamentou que tivesse buscado Deus
tão tarde na vida. Ou seja, que sua juventude não tivesse sido gasta para a
glória de Deus. O resultado disso, foi que ele tinha um senso profundo e vívido
da pecaminosidade humana e da correspondente grandeza infinita da graça de
Deus, enquanto Pelágio não tinha nada disso.
Esta
é uma das razões pelas quais as Confissões de Agostinho ser a maior autobiografia
espiritual escrita. “Todas as coisas boas vêm de Ti, ó Deus, e de Ti, meu Deus,
vem e está toda a minha salvação!” (Confissões 1.6.7).
Onde
Pelágio viu todas as crianças como nascidas inocentes e puras como Adão na
Criação no Éden, Agostinho escreveu: “as crianças são “inocentes” apenas porque
não tem ainda nenhuma força física para expressar sua vontade, mas suas mentes
e corações não são inocentes e puros” (Confissões 1.7.11).
A
única "inocência" que as crianças têm, ele percebeu, era a inocência
de atos exteriores de pecado, e isso era apenas porque eles não tinham a força
física ou capacidade para cometê-los ou expressa-los! Como resultado de suas lutas contra o
pecado, ele também tinha uma compreensão muito menos simplista da natureza da
vontade humana. Enquanto para Pelágio o problema era apenas que as pessoas
pecam, para Agostinho era que as pessoas SÃO PECADORAS, uma visão muito mais
profunda.
Era
inevitável que, assim que ouvisse a oposição de Pelágio, Agostinho pegasse sua pena em resposta a clara visão contrária a Palavra que Pelágio desenvolveu –
e foi exatamente o que ele fez. Enquanto a disputa entre Nestório e Cirilo era
dominada pela política e se dava mais na esfera política que teológica,
Agostinho se dirigiu a Pelágio inteiramente na arena teológica. Pelágio era um
falso mestre, e assim foi ao seu ensinamento que Agostinho se oporia, e não ao
homem propriamente dito.
Pelágio
não foi para o norte da África sozinho; ele foi acompanhado por muitos de seus
discípulos, entre os quais um brilhante ex-advogado chamado Celestius.
A
mente lógica de Celestius fez dele um professor muito mais extremo, porque
lógico, do que Pelágio – um lembrete que a consistência lógica não é uma coisa
boa se você parte de pressupostos errados – todo o raciocínio a partir daí está
fatalmente viciado. Num grande esforço para estender a influência do
ensinamento de Pelágio, Celestius buscou a ordenação ao presbitério no norte da
África – mas Agostinho garantiu que ele não fosse ordenado, mas sim, condenado
como herege.
Se
baseando em sua grande habilidade e erudição bíblica, Agostinho produziu uma
série de livros, folhetos... sobre a natureza humana e a Graça soberana, sobre
a Graça de Cristo e o pecado original, e sobre o Espírito e a letra. A Graça de
Deus, apontou Agostinho, não é mencionada na Bíblia tornando pecadores
salváveis, mas por salvar pecadores – não é a vontade do homem, mas a Graça de
Deus que é soberana na salvação. Enquanto Agostinho usava as Escrituras para responder
a Pelágio e Celestius, o grande teólogo africano via cada vez mais clara e
profundamente que a salvação é, afinal de contas, em toda a Bíblia, “toda e
somente pela Graça”.
Contra
a alegação de Pelágio de que todos nós nascemos inocentes e puros como Adão foi
criado, Agostinho apontou que a Bíblia ensina o oposto, que todos caímos em
Adão, e que a queda de Adão afetou todos os seus descendentes – usando inicialmente
o texto de Romanos 5.14-19.
Contra
a alegação de Pelágio de que todos nós nascemos inocentes e puros como Adão foi
criado, Agostinho apontou que a Bíblia ensina que todos nós caímos em Adão, e
que a queda de Adão afetou todos os seus descendentes. Um dos principais textos
foi Romanos 5: 14-19:
“No
entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham
pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que
havia de vir. Mas
não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um morreram
muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem,
Jesus Cristo, abundou sobre muitos. E
não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de
uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas
ofensas para justificação. Porque,
se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a
abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus
Cristo. Pois
assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para
condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os
homens para justificação de vida. Porque,
como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim
pela obediência de um muitos serão feitos justos.”
Mostrando
como claramente a Bíblia afirma que o pecado de Adão não apenas afetou Adão,
mas afetou completamente toda a sua progênie – “Pela desobediência de um homem
muitos foram feitos pecadores”. Agostinho mostrou, como de alguma maneira
misteriosa, mas muito real e inequívoca, todos os descendentes de Adão estavam realmente
presentes em Adão, e assim compartilhavam sua transgressão, queda e depravação – apenas mais tarde
que a Teologia Federal seria desenvolvida, entendendo ser “em Adão” como uma
questão de liderança federal. Adão sendo o cabeça federal da humanidade.
Isso
é o que é chamado de “pecado original”, conforme exposto, por exemplo, no
Artigo nove da igreja da Inglaterra – “O Pecado Original não está no seguimento
de Adão ( imitação – como os Pelagianos falam em vão ), mas é culpa e corrupção
original”. A natureza de todo homem, que naturalmente é herdada da descendência
adâmica, por meio da qual o homem está completamente afastado da retidão
original e é tem em sua própria natureza inclinação final e total ao mal, de modo que a
carne sempre é contrária ao espírito, a mente sempre é inimizade contra Deus,
e, portanto, em toda pessoa nascida neste mundo a condição é essa – fazendo com que todos mereçam
apenas a ira e a maldição de Deus. Como Paulo mostra em Romanos 3.10-19:
“Como
está escrito:Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda;Não há
ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram
inúteis.Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro
aberto;Com as suas línguas tratam enganosamente;Peçonha de áspides está debaixo
de seus lábios; Cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são
ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; E não
conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Ora,
nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para
que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus.”
Foi
isso que Pelágio negou, não por causa das Escrituras, mas porque ele estava
preocupado que o ensino da Bíblia pudesse encorajar as pessoas a pecar porque “elas
não poderiam fazer melhor”. Em outras palavras, o claro e flagrante abuso da
doutrina foi, para Pelágio, razão suficiente para se opor a clara doutrina
bíblica. Encontramos pessoas sem fim fazendo a mesma coisa hoje – e chegando ao
mesmo trágico resultado – apelando não a Bíblia somente, mas ao que elas temem
que as consequências de uma doutrina possam ter ou ser, independente de a
Bíblia ensinar o preceito claramente ou não.
Em
411 dC, um conselho local de bispos africanos foi convocado em Cartago para
considerar o ensino de Pelágio. Com Agostinho, o maior teólogo da época, como
promotor, o veredicto foi firme; Pelágio foi condenado como um herege que
ensinava contra o claro ensino das Escrituras. Não havia agora nenhuma abertura
para ele ensinar na África, a menos que se retratasse, o que ele não estava
disposto a fazer; sua única opção era partir para outra parte do Império.
Foi
exatamente o que Pelágio fez; e partindo do norte da África, Pelágio viajou a
Palestina, onde logo se tornou amigo do bispo João de Jerusalém. Por outro
lado, Pelágio e seus seguidores entraram em choque com Jerônimo, o grande
tradutor da Bíblia, que morava em um mosteiro em Belém. Ambos os homens eram
então defensores da vida monástica, mas Jerônimo ( Como era de se esperar de um
homem que conhecia a Bíblia intimamente nas línguas originais) achou a
exaltação de Pelágio da VONTADE DO HOMEM profundamente perturbadora e contrária
as Escrituras. Mesmo não tendo as convicções tão formadas como Agostinho, achou
a ideia de que as conquistas de uma vida de santidade entre monges, freiras,
cristãos... eram, em última análise, o resultado das decisões daqueles que se
dedicavam a uma vida assim, era perturbadora. Se esse era o caso, então como
todo louvor seria dado a Deus?
No
início de 415 dC, um padre espanhol chamado Paulo Orosius chegou a Belém do
norte da África. Orosius estava hospedado com Agostinho em Hipona e trouxe a
Jerônimo notícias de seu amigo africano. Ele também trouxe consigo as cópias
dos escritos de Agostinho contra Pelágio, incluindo Natureza e Graça...
Assim,
em 28 de Julho, o bispo João realizou uma reunião informal em Jerusalém com
Orosius e Pelágio. O monge britânico se defendeu vigorasamente e Orosius não
estava a altura para a tarefa de se opor a ele. Um sínodo formal reaizado em
Diospolis, em dezembro, declarou Pelágio ortodoxo – para grande desgosto de
Jerônimo, que na época estava empenhado em escrever um Diálogo Contra os
Pelagianos – uma obra que ele mesmo descreveu como um “cassetete espiritual”.
Jerônimo salientou que nenhum dos santos bíblicos eram perfeitos, mas pecadores
redimidos, e apelou para o claro ensino bíblico contra a especulação filosófica
de Pelágio. No entanto, no calor do debate e em excesso de zelo, Jerônimo
errou, sugerindo que o próprio Jesus necessitava de ajuda divina para
permanecer perfeito – uma afirmação que Pelágio e seus partidários estavam
esperando e ansiosos para poder ter algo contra Jerônimo.
A
declaração de ortodoxia de Pelágio em Diospolis foi obtida por uma combinação
de oratória artística de Pelágio e a influência pessoal do bispo João, que se
tornara amigo pessoal de Pelágio. Foi uma grande decepção para Jerônimo e
Orosious. Assim que a estação de viagem reabriu, Orosious retornou a Hipona com
uma carta de Jerônimo a Agostinho – na qual foram dados detalhes do que
aconteceu na Palestina. Enquanto Orosius estava em Hipona chegou a notícia de
que os partidários de Pelágio tinham atacado o mosteiro de Jerônimo em Belém e
queimado tudo. Enquanto Pelágio não aprovou a ação, jamais falou contra ela.
Por
várias razões, incluindo a contínua controvérsia sobre a pessoa de Cristo que
culminou no Concílio da Calcedônia, e a dificuldade de comunicação, a
controvérsia pelagiana foi uma questão da Igreja Ocidental, não do Oriente.
Por
esta razão, foi que isso afetou diretamente a Sé de Roma. Embora a ideia da
Supremacia Papal ainda fosse desconhecida no século V, a Sé de Roma desfrutava
de uma primazia de liderança na Igreja Ocidental e, nas controvérsias locais, o
apelo muitas vezes era feito a Roma. Portanto, segundo a decisão do Sínodo
Palestino em Diospolis de ir contra a condenação de Pelágio em Cartago em 411
dC, as Igrejas africanas mantiveram seus próprios sínodos e também apelaram
para Inocêncio I, bispo de Roma ( 411 – 417 dC ) – Quando ele ouviu não só a
decisão em Diospolis, mas também sobre o ataque ao mosteiro em Belém.
A
morte de Inocêncio em março de 417 dC, no entanto, trouxe incerteza em toda a
questão – onde Inocêncio havia condenado Pelágio, seu sucessor, Zózimo, reabriu
o assunto, e permitiu-se ser influenciado pela correspondência de Pelágio, e um
argumento pessoal talentoso do ex-advogado Celestius em Roma. Zózimo anunciou
que estava revertendo o veredicto de seu antecessor e criticou os bispos
africanos. Mas Agostinho e seus companheiros não se sentiram intimidados por
ele, e respondera que a sentença de Inocêncio devia permanecer, confirmando-a
em um Sínodo em 418 dC. Eles até apelaram ao Imperador, forçando Zózimo a fazer uma rápida reviravolta. Sem outra
opção, ele repetiu a condenação de Pelágio por Inocêncio e declarou que ele era
de fato excomungado e herege. Ele continuou a discutir com a Igreja Africana
até adoecer no final de 418 dC, e a doença terminou rapidamente em sua morte no
dia 26 de Dezembro de 418 dC. O assunto não foi reaberto pelo seu sucessor.
Pelágio deixou a Palestina para o Egito e depois disso desaparece da história.
Em
431 dC, Pelágio e Celestius foram condenados como hereges pelo Concílio de Éfeso.
O SEMI-PELAGIANISMO.
No
entanto, a morte de Pelágio não foi o fim de sua especulação; a heresia sempre
tenta mudar de forma para permanecer – então não havia apenas aqueles que o
seguiram, mas houve aqueles que tentaram desenvolver um “caminha do meio” entre
o estrito ensino bíblico do pecado original e do arbítrio humano. ( Tentando trazer de volta a ideia do livre arbítrio
de Pelágio ).
No
sul da Gália, em particular, havia monges que ensinavam que a natureza humana
foi muito prejudicada pela Queda, tornando difícil para as pessoas escolherem
fazer o bem, mas que mesmo assim era possível ao homem, com ajuda divina,
escolher o bem. Ou seja, como Pelágio, negavam a Depravação Total da natureza humana. Entre estes estavam os teólogos John Cassian e Vincentius de
Lerins. Se a imagem bíblica é do homem “morto em delitos e pecados” ( Efésios
2.1 e Colossenses 2.13), a visão semi-pelagiana é que o homem está “ferido”,
talvez até meio morto, mas ainda capaz de responder a Deus por contra própria
tendo livre arbítrio. Isso também foi condenado, no Conselho de Orange em 529
dC. A tentativa de acomodação foi chamada de Semi-Pelagianismo, e falhou porque
não abordou as questões básicas levantadas na controvérsia. Enquanto Agostinho,
seguindo a Bíblia, colocou toda a obra da salvação, do começo ao fim, nas mãos
de Deus – em sua Graça Soberana – os Semi-Pelagianos tentaram dividir as
responsabilidades. Talvez de forma mais ruinosa, eles colocaram a Eleição de
Deus com base na fé prevista no crente ( Como é feito até hoje na argumentação
contra o claro ensino bíblico ), tornando assim o homem, e NÃO DEUS, quem
começa a obra da salvação.
A IGREJA NA IDADE MÉDIA.
Apesar
da vigorosa condenação de Pelágio e da condenação do concílio de Orange contra
o Semi-Pelagianismo, uma forma de semi-pelagianismo lentamente se tornou o
ensino padrão da Igreja Católica durante
a Idade Média – Mas começaram a descrever mais sutilmente como “semi-agostinianismo”
– Formalmente apenas, o veredicto de Orange foi aceito, mas uma ideia de que o
homem tem, em algum sentido, livre arbítrio para escolher Deus, foi tomada
quase como uma parte auto evidente ( não saindo das Escrituras, mas pela
percepção natural e filosófica ) da teologia da Igreja Católica.
Claro
que isso não foi sem desafios, como Agostinho permaneceu altamente respeitado
como o Grande Doutra da Igreja, mesmo que na época sendo pouco lido. Enquanto
Agostinho era firme em seu ensinamento de que a salvação é toda, do início ao
fim, uma obra da Graça soberana de Deus, a teologia medieval, com seu elaborado
sistema sacramental, tornou-a de novo uma questão sinergista, uma questão de cooperação
entre o homem e Deus.
A
ideia anti-bíblica de uma “Graça Preveniente” ( isto é, uma graça que vem antes
) que Deus dá para permitir que todas as pessoas possam crer se quiserem,
surgiu então. O que é diferente do termo quando usado em Agostinho - quando a Graça age antes somente nos eleitos - sendo então uma Graça eficaz, produzindo todos os efeitos salvíficos em todos os eleitos. E não uma "graça preveniente" anti-bíblica, que age em todos os homens para que tenham livre-arbítrio para serem a causa inicial e final da salvação.
REFORMA PROTESTANTE.
B.
B. Warfield descreveu a Reforma como "a vitória da doutrina da graça de
Agostinho sobre a doutrina da Igreja
Católica". Em grande medida, a Reforma foi tão somente a redescoberta dos
ensinamentos do grande Pai Africano, neste ponto do estado da vontade humana,
tanto quanto outros.
Exatamente
por isso, o grande debate da Reforma foi entre Erasmo ( pela Igreja Católica ) e
Lutero exatamente sobre a questão do livre arbítrio e a escravidão da vontade
humana.
O
pequeno Diatribe de Erasmo ( Escrito a pedido da Igreja Católica ) escrito em
1524 queria manter o ensino medieval sobre o livre arbítrio... e foi respondido
no ano seguinte com a magistral obra de Lutero “A Escravidão da Vontade” – No qual
o Reformador Alemão confirmou Agostinho contra o que ele considerava uma forma
de Pelagianismo dos últimos dias. Enquanto era crítico vigoroso dos abusos práticos
da Igreja Católica, Erasmo manteve a teologia medieval como ensinada por
escolásticos como Alexandre de Hales ( 1185 – 1245 ).
Lutero
considerou seu livro – A Escravidão da Vontade – como o mais importante que ele
já havia escrito. Lutero expôs a visão da Reforma, fundada firmemente na Escritura.
Por outro lado, a Igreja Católica Romana afirmou os ensinamentos que foram
expostos por Erasmo, e a divisão permanece até hoje ( É fácil ver, que muitos
que se dizem protestantes, pensam e ensinam exatamente igual a Igreja Católica
em sua adaptação do Pelagianismo ).
O PÓS-REFORMA
Formas
contínuas de Pelagianismo ou Semi-Pelagianismo continuaram a surgir. Mas o
movimento de uma forma de semi-pelagianismo mais significativo da era
pós-reforma foi o chamado pelo nome de Arminius, Jacobus Arminius era um pastor
reformado holandês que começou a ensinar uma forma de graça universal que fazia
todos os homens salváveis, embora não salvasse ninguém. Isso era com o
homem. Ele negou um decreto de reprovação
e modificou o ensinamento sobre o pecado original ( negando a Depravação Total
do homem em Adão ) que ele havia
recebido de seus professores. Apesar das críticas de suas opiniões heterodoxas,
foi nomeado professor de Teologia em Leiden em 1603, onde ensinou até sua morte
em 1609, aos 49 anos. Ele encontrou seguidores, e eles, liderados por Simon
Episcopius, desenvolveram seu sistema ainda mais, depois de sua morte.
Em
1618, o Sínodo de Dort foi convocado na Holanda, tendo a presença dos
principais teólogos reformados da Europa. Ele condenou inequivocamente os
arminianos nos 5 pontos que eles haviam proposto, respondendo biblicamente cada
um deles. Reafirmando o ensino bíblico do pecado original e seu efeito sobre o
homem e a salvação sendo totalmente uma obra da Graça Soberana de Deus.
Mas
o ensinamento arminiano não morreu, e se espalhou na Igeja da Inglaterra sob a
liderança do Arcebispo Laud e foi favorecido pelos reis Stuart – apesar do
caráter Reformado dos Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra. Após a
restauração e subsequente expulsão da maioria dos Puritanos da Igreja da
Inglaterra, esse arminiamismo racionalista se tornou a teologia predominante na
Igreja d Inglaterra, embora ainda houvesse uma parte comprometida com a
Teologia dos Artigos.
John
Wesley – recorreu a essa herança arminiana – tentou mesclar – falando sobre uma
visão “mais bíblica” da condição do homem – como perdido em pecado e condenado
em Adão – Mas ao mesmo tempo, ele ensinou que Deus graciosamente deu a TODOS a
capacidade de responder ao Evangelho se quisessem – um arranjo do
semi-pelagianismo. Todo o ensino resultante era muito instável, e onde teve
tentativa de sistematização, seguiu o curso “natural” da negação do pecado
original em sua plenitude e Depravação humana e uma exaltação do livre
arbítrio.
O PELAGIANISMO HOJE
Na
introdução à sua edição de “The Bondage ofthe Will” – A Escravidão da Vontade
de Lutero, Packer e Johnston escrevem: "O protestantismo moderno não seria
nem de propriedade nem mesmo reconhecido pelos Reformadores ... O
protestantismo hoje se tornou Erasmiano muito mais do que Luterano." Ou seja, mostra
a mesma visão de Erasmo ( e da Igreja Católica ) e não de Lutero. A visão da Igreja Católica e não dos
Reformadores. Muito do protestantismo
moderno é, na verdade, semi-pelagiano, na melhor das hipóteses. O
evangelicalismo moderno está profundamente infectado. Basta pensar nos apelos
para que as pessoas se “decidam por Cristo” e na imagem de Cristo que invoca o
pecador a o aceitarem. Pregadores evangélicos modernos são ouvidos pedindo que seus
ouvintes "deem uma chance a Jesus ".
Grande
parte da culpa por isso pode ser atribuída a um homem, considerado por muitos
como um herói, mas, na realidade, um dos falsos mestres mais perigosos e
destrutivos para a sã doutrina bíblica; seu nome é Charles Grandison Finney. Nascido em 1792, na zona rural de Nova
Inglaterra, foi aprendiz de advogado na época de sua experiência de conversão
em 1821. Convicto de que foi chamado para ser um "advogado de Deus",
começou a estudar para o ministério e ordenado ao ministério presbiteriano em
1824 como evangelista. Apesar do fato de que ele teve que dar seu consentimento
e se dizer fiel à Confissão de
Westminster, a fim de ser ordenado, ele disse mais tarde que nunca havia lido a
Confissão de Westmisnter - e quando ele leu, descobriu que discordava violentamente
com o que estava ali. Apesar disso, ele continuou a pregar como evangelista
presbiteriano e a ensinar o que realmente equivalia ao pelagianismo puro.
Finney
transferiu de sua formação jurídica o princípio de que um mandamento implica
necessariamente a capacidade de realizá-lo (como grande parte dos evangélicos
argumentam hoje), portanto, se Deus ordena que as pessoas façam algo, elas
devem ter o poder de fazê-lo. Nisso ele é o pai do evangelismo moderno da 'Decisão'.
Porque ele acreditava que todo homem deve ter em seu poder sem ajuda, se
arrepender e se voltar para Cristo se quiser, Finney raciocinou que as melhores
formas de evangelismo eram aquelas que forjavam e pressionavam sobre a vontade
livre do homem, e assim ele desenvolveu toda a sua estratégia evangelística com
base nessa ideia. O resultado foi que, em vez de confiar na Bíblia e no
Espírito Santo, Finney contava com técnicas de alta pressão, reuniões que
duravam longas horas, discursos emocionais e o uso do surpreendente e do novo. Eles
trouxeram milhares para fazer uma profissão e “aceitarem” a Cristo.
Finney
particularmente se opôs à ideia de que todos os homens são caídos em Adão e
precisam ser salvos por um poder fora de si mesmos, portanto em sua Teologia
Sistemática , ele insistiu que os homens “estão sob a necessidade de primeiro
mudar seus corações, ou sua escolha de um fim, antes que eles possam expor
qualquer volição para assegurar qualquer outro fim que não seja egoísta.”
Como
Michael Horton escreveu sobre Finney, Ao contrário da doutrina do pecado
original, Finney acreditava que os seres humanos são capazes de escolher se
desejam ser corruptos por natureza ou redimidos, referindo-se à doutrina do
pecado original como "um dogma sem lógica e fundamento bíblico" (p.
179 de Teologia Sistemática de Finney). Em termos claros, ele negou a ideia de
que os homens possuem uma natureza pecaminosa Por conseguinte, se Adão nos leva
ao pecado e isto ocorre não porque herdamos a sua culpa ou corrupção, e sim
porque seguimos o seu triste exemplo, ( Exatamente como Pelágio ) tal ideia nos
conduz a pensar logicamente que Cristo, o Segundo Adão, nos salva por meio de
seu exemplo. Este é exatamente o ponto onde Finney chegou, ao explicar a
doutrina da expiação.
A
primeira coisa que temos de observar sobre a expiação, dizia Finney, é que
Cristo não poderia ter morrido em favor do pecado de qualquer outra pessoa,
exceto o dele mesmo. Sua obediência à lei e sua perfeita justiça eram
suficientes para salvar somente a Si mesmo, mas não podiam ser aceitas em favor
de outros. O fato de que toda a teologia de Finney resultou de uma intensa paixão
por aperfeiçoamento moral pode ser visto nesta afirmativa: "Se Cristo
tivesse obedecido a lei como nosso Substituto, por que a insistência bíblica
sobre nosso retorno à obediência pessoal, apresentando esta obediência como um
requisito fundamental para nossa salvação?" (p. 206 – de sua Teologia
Sistemática).
Finney
acreditava que Cristo havia morrido por algum motivo — não por alguém, mas por
alguma coisa. Em outras palavras, Cristo morreu por um objetivo e não por um
povo. O objetivo da morte dEle foi reafirmar o governo moral de Deus e
conduzir-nos à vida eterna por meio de seu exemplo, assim como o exemplo de
Adão nos incita ao pecado. Por que Cristo morreu? Deus sabia que "a
expiação ofereceria às criaturas os mais elevados motivos a serem imitados. O
exemplo é a mais poderosa influência moral que pode ser praticada... Se a
benevolência manifestada na expiação não subjuga o egoísmo dos pecadores, a
situação destes é desesperadora" (p. 209). Portanto, não somos pecadores desesperados
que precisam ser redimidos, e sim pecadores desorientados que necessitam de uma
demonstração de altruísmo tão comovente, que seremos motivados a abandonar o
egoísmo. Finney não apenas acreditava que a teoria de uma expiação de
"influência moral" era a principal maneira de se entender a cruz; ele
explicitamente negava a expiação vicária, pois esta "admite que a expiação
foi literalmente o pagamento de um débito, que, conforme vimos, não é coerente
com a natureza da expiação... E verdade que a expiação, por si mesma, não assegura
a salvação de qualquer pessoa" (p. 217 de sua teologia sistemática).
Finney
argumentou tenazmente contra a crença de que o novo nascimento é um dom de
Deus, insistindo que "a regeneração consiste na atitude do próprio pecador
mudar sua intenção, sua preferência e sua escolha definitiva; ou mudar do
egoísmo para o amor e a benevolência", impulsionado pela influência moral
do comovente exemplo de Cristo (p. 224). "A pecaminosidade original, a regeneração
física e todos os dogmas resultantes e similares a estes opõem-se ao evangelho
e são repulsivos à inteligência humana" - diz Finney(p. 236).
Não
levando em conta o pecado original, a expiação vicária e o caráter sobrenatural
do novo nascimento, Finney prosseguiu adiante e atacou "o artigo pelo qual
a igreja mantém‑se de pé ou cai" — a justificação gratuita
exclusivamente pela fé.
Os
reformadores protestantes insistiam, com base em evidentes textos bíblicos, que
a justificação (no grego, "declarar justo", ao invés de "tornar
justo") era um veredicto forense (isto é, "judicial"). Em outras
palavras, enquanto o catolicismo romano sustentava que a justificação era um
processo para tornar melhor uma pessoa má, os reformadores argumentavam que a
justificação era um pronunciamento ou uma declaração de que alguém possuía a
retidão de outra pessoa (ou seja, Cristo). Portanto, a justificação era um veredito
perfeito, outorgado de uma vez por todas, declarando que alguém permanecia
íntegro desde o início da vida cristã, e não em qualquer outra etapa desta.
As
palavras chaves da doutrina evangélica eram "forense" (significando
"judicial") e "imputação" (lançar na conta de alguém;
opondo-se à ideia de "infusão" de justiça na alma da pessoa). Sabendo
tudo isso, Finney declarou:
"É
impossível e absurdo que os pecadores sejam declarados legalmente justos...
Conforme veremos, há várias condições, mas apenas um fundamento, para a
justificação dos pecadores. Já dissemos que não existe uma justificação no
sentido forense ou judicial, e sim uma justificação fundamentada na
ininterrupta, perfeita e universal obediência à lei. Isto, sem dúvida, é
negado por aqueles que asseveram que a justificação evangélica, ou a
justificação de pecadores arrependidos, possui o caráter de uma justificação
forense ou judicial. Eles se apegam à máxima judicial de que aquilo que um
homem faz através de um outro é considerado como sendo feito por ele mesmo;
portanto, a lei considera a obediência de Cristo como nossa, com base no fato
de que Ele a obedeceu por nós".
A
isto o próprio Finney respondeu: "A doutrina de uma justiça imputada, ou
seja, que a obediência de Cristo à lei foi reputada como nossa, fundamenta-se
em uma suposição falsa e sem lógica". Afinal de contas, a justiça de
Cristo "poderia justificar somente a Ele mesmo. Jamais poderia ser
imputada a nós... Era naturalmente impossível para Ele obedecer a lei em nosso
favor". Esta "interpretação da expiação como base da justificação dos
pecadores tem sido uma ocasião de tropeço para muitos" (pp. 320-322 de sua
Teologia Sistemática).
O
conceito de que a fé é a única condição da justificação expressa "um ponto
de vista antinomiano", disse Finney. "Veremos que a perseverança na
obediência até ao fim é também uma condição para a justificação." Além
disso, a "santificação presente, no sentido de plena consagração a Deus, é
outra condição... da justificação. Alguns teólogos transformaram a justificação
em uma condição para a santificação, ao invés de fazerem da santificação uma
condição para a justificação. Porém, conforme observaremos, este é um conceito
errado sobre a justificação" (pp. 326-327 – de sua Teologia Sistemática).
Cada ato de pecado exige "uma nova justificação" (p. 321).
Referindo-se "aos elaboradores da Confissão de Fé de Westminster" e
ao ponto de vista de uma justiça imputada, Finney admirou-se, afirmando:
"Se isto não é antinomianismo, não sei o que é" (p. 332). Essa
imputação legal era irracional para ele, por isso concluiu: "Considero
estes dogmas como fantasiosos, descrevendo mais um romance do que um sistema
teológico" (p. 333).
Conforme
ressaltou eloqüentemente B. B. Warfield, o teólogo de Princeton, há duas
religiões na história da raça humana: o paganismo — da qual o pelagianismo é
uma expressão — e a redenção sobrenatural.
As
"Novas Medidas" de Finney, semelhantes às do moderno Movimento de
Crescimento de Igrejas, tornaram a escolha do homem e as emoções o centro do
ministério da igreja, ridicularizaram a teologia e substituíram a pregação de
Cristo por uma pregação voltada a conversões.
Ecoando
um pouco de deísmo, Finney declarou: "Na vida espiritual nada existe além
das capacidades naturais; ela consiste totalmente no correto exercício dessas
capacidades. É apenas isto e nada mais. Quando a humanidade se torna
verdadeiramente religiosa, as pessoas são capacitadas a demonstrar esforços
que eram incapazes de manifestar antes. Exercem apenas capacidades que tinham
antes, e utilizavam de maneira errônea, e agora as empregam para a glória de
Deus". Deste modo, visto que o novo nascimento é um fenômeno natural, o
mesmo ocorre ao avivamento: "Uma avivamento não é um milagre, tampouco
depende deste, em qualquer sentido; é simplesmente um resultado filosófico da
correta utilização dos meios estabelecidos, assim como qualquer outro resultado
produzido pelo emprego destes meios". A crença de que o novo nascimento e
uma avivamento dependem necessariamente da atividade divina era perniciosa para
Finney. Ele disse: "Nenhuma doutrina é mais perigosa do que esta para o
progresso da igreja, e nada pode ser mais absurdo" (Revivais of Religião
[Avivamentos da Religião], Revell, pp. 4-5).
Deste
modo, na teologia de Finney, Deus não é soberano, o homem não é pecador por
natureza, a expiação realmente não é um pagamento pelo pecado, a justificação
por meio da imputação é um insulto à razão e à moralidade, o novo nascimento é
apenas o resultado da utilização de técnicas bem-sucedidas, e o avivamento é o
resultado natural de campanhas inteligentes. Tudo apoiado no suposto livre
arbítrio do homem. E desnecessário dizer que a mensagem de Finney é
radicalmente contrária à fé bíblica.
Assim,
podemos dizer que, por meio de Finney, e seus antecessores que fugiram das
grandes Doutrinas bíblicas da Soberania de Deus em tudo – a Soberana Graça da
na salvação, do início ao fim – Doutrinas que os Reformadores trouxeram de
volta contra a escuridão da Igreja Católica Medieval, o evangelicalismo moderno
tornou-se completamente fermentado com o erro pelagiano e não é menos herege do
que ele ou a Igreja Católica.
Como
dissemos inicialmente, nada novo realmente surgiu desde Pelágio – tudo é apenas
um desdobramento daquela heresia que se manifesta com pequenas alterações e que
hoje se tornou praticamente tudo que a maioria das igrejas ditas evangélicas
acreditam e pregam.
Artigo do site - https://www.oapedeuta.com/
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