A.
W. Tozer certa vez disse: “Tudo que podemos tocar não é eterno”. Palavras sábias e
verdadeiras. Como então podemos viver uma vida com a perspectiva da eternidade
se tudo que tocamos com nossos sentidos, se tudo que sentimos e tocamos com nossas faculdades
naturais não expressam a eternidade?
Precisamos de algo fora
de nós, precisamos de algo de Deus. Esse foi um dos maiores achados na Reforma.
Lutero repetia e repetia – A Palavra é
externa – a
verdade não está dentro... Além disso, nossas faculdades naturais
não são suficientes, precisamos de um novo coração que vem do mesmo lugar de
onde esta Palavra veio. Temos que “tocar”
a Verdade com nada que seja humano ou natural.
Nos dias de Jesus o
profeta nos diz: “não vimos nele beleza
alguma que nos atraísse”. Assim que Israel contemplou Deus andando no
mundo, com olhos físicos, com o que podiam avaliar, ver, tocar, sentir –
Resultado: ‘não vimos nada que nos
atraísse”
Já João nos diz algo
completamente diferente, ele diz: “O
Verbo virou gente e habitou entre nós e vimos sua glória como a glória do
unigênito do Pai” – Uau!! Que diferença! – “Não vimos beleza alguma...” – “...e vimos Sua
Glória...”
Vivemos em dias de
grande confusão espiritual. Nossa época é rica em heresias e desvios
atordoantes da Palavra de Deus. Tudo seria mais fácil se o homem tão somente se
fixasse naquilo que tão claramente a Palavra de Deus proclama.
As multidões não querem
obedecer (ou sequer tem um coração para
isso) a Deus, elas querem “senti-lo”.
Uma das provas da maturidade (mesmo
emocional – que dirá espiritual) é a capacidade (e a disposição) de superar
os sentimentos efêmeros e governar nosso comportamento com o intelecto e a
vontade.
Os ‘crentes’
infelizmente, parecem desconhecer esta fonte de confusão e desilusão. Como
pastor estou sempre em contato com pessoas que estão passando por períodos de
sofrimento ou que foram destruídas por doutrinas heréticas...
Muitas vezes, apesar do
sofrimento, eles ainda não perceberam o fator que os levou até ali, e por isso,
continuam indo no mesmo processo que os levará de volta ao mesmo desespero. Não
percebem que o que eles sentem não reflete nada a não ser sua disposição de
espírito.
Tanto na dificuldade do
enfrentamento dos sofrimentos da vida, como na facilidade de se crer em falsas
doutrinas, essa natureza que interpreta tudo na base do como estou sentindo, é
a raiz destruidora.
Não podemos nos
aproximar da Palavra de Deus, nem do próprio Deus com base no que estamos
sentindo. Não podemos enfrentar as tristezas e sofrimentos inevitáveis de um
mundo caído – na base de como nos sentimos.
Isso me faz lembrar de
uma história bem antiga sobre quatro homens cegos que encontraram um elefante.
Todos nós já encontramos tal elefante. Todos nós fomos tentados a agir da mesma
maneira.
A história diz que um
deles colocou a mão na perna do elefante. “Um é como uma árvore”, ele declarou:
“grosso e forte”.
Outro homem pegou o
elefante pela orelha. “Não meu amigo”, disse ele, “um elefante é como uma
grande folha, chata e flexível”.
O terceiro pegou o
animal pelo rabo. “Ambos vocês estão errados”, ele disse. “Um elefante é como
uma corda, longo e fino”
O quarto homem encostou
no corpo maciço do elefante. “Todos vocês são tão burros quanto são cegos”, ele
disse: “um elefante não é nada disso. Ele é forte e duro, como um grande muro”.
Assim as pessoas tocam
as doutrinas. Assim as pessoas tocam os problemas e tragédias da vida. Cada um
com sua interpretação absurda dos fatos da vida e da Verdade de Deus que opera
em todas essas coisas. Com isso a visão de Deus é distorcida, a visão do seu
plano eterno é distorcida, a visão dos seus atributos é distorcida, a maneira
como se enxerga o sofrimento é distorcida... Como conseqüência, vivemos na
mentira e não compreendemos o sofrimento. Tudo isso porque somos cegos.
Um bom exemplo disso
está em Lucas 24.13,14 – quando dois discípulos estavam a cominho da aldeia
chamada Emaús. Eles haviam visto o ser Mestre horrivelmente crucificado três
dias antes, e ficaram profundamente deprimidos. Toda a esperança que
acalentaram por anos morreu numa cruz romana. Todos aqueles três anos juntos,
os ensinamentos... pareciam agora apenas fantasia das suas mentes. Cristo havia
falado com tal autoridade, mas agora estava morto. Eles tocaram esses fatos
como os cegos tocaram o elefante. Seu Mestre estava morto e enterrado num
túmulo emprestado. Isso era um fato e contra fatos não há argumento. Eles
deviam lembrar dos últimos momentos de Cristo, tipo “Deus meu, Deus meu, porque
me desamparaste...” (Mt 27.46). Isso não te deixaria confuso?
O que eles não podiam
ver nem sentir, era que Jesus estava caminhando com eles na mesma estrada
poeirenta, e naquele exato momento. Eles estavam prestes a receber a maior
notícia que o ouvido humano já ouviu em toda a história. A notícia iria
revolucionar as suas vidas e virar o resto do mundo de cabeça para baixo.
Entretanto, eles só viam os fatos, fatos estes, que não podiam ser
harmonizados.
Com meu trabalho como
pastor junto a pessoas e famílias em crise, eu sempre as encontro lutando de
maneira semelhante a esses discípulos e aos cegos com seu elefante. Enquanto
caminham com seus problemas e dores, não há provas de que Jesus faz parte do
universo deles. Porque eles não “sentem” sua presença. Como os fatos que estão
vivendo e tocando não acrescentam nada, eles estão convencidos de que não há
explicação razoável, ou estão tateando com opiniões absurdas do que seja um
‘elefante’.
As orações não trazem
alívio imediato, por isso, eles imaginam que não são mais ouvidos. Estão
enganados, tão enganados como os cegos tocando o elefante e tentando entender
sua aparência.
Toda confiança e
esperança é colocada no que elas sentem e não nas promessas de Deus que disse
que supriria todas as nossas necessidades, segundo as riquezas na glória por Cristo
Jesus (Fl 4.19).
Se você está hoje nessa
estrada poeirenta para Emaús, e além disso, encontrou um ‘elefante’ - se as circunstâncias da vida o deixaram
confuso e deprimido, se sentiu que uma doutrina herética estava certa, apenas
para neste instante estar na mais profunda confusão, tenho um breve conselho
pra te dar. Abandone completamente a tentativa de caminhar neste mundo baseado
naquilo que você sente. Naquilo que você sente ser a verdade; naquilo que você
sente no meio do sofrimento e das perdas da vida, na tentativa de novamente
sentir para determinar que caminho tomar... Nunca presuma que o silêncio de
Deus ou sua aparente inatividade, é prova de seu desinteresse... De uma vez por
todas entenda – Sentimentos a respeito da inacessibilidade dele nada
significam! Absolutamente nada! A Palavra de Deus é confiável. A Palavra dele é
infinitamente mais confiável do que nossas sinistras emoções.
Não precisamos andar de
heresia em heresia. Não precisamos mergulhar na confusão a cada sofrimento na
vida. Como disse certo servo de Deus há muito tempo atrás: “Com Deus, mesmo
quando nada está acontecendo – alguma coisa está acontecendo” – Deus está
trabalhando à sua própria maneira.
Estabelecemos nossos
alicerces, estabelecemos nossa vida na verdade, como reagimos na dor... não em
emoções efêmeras, ou em qualquer capacidade natural de compreender as coisas;
mas na Palavra escrita. Como disse Lutero, a Verdade é externa, está fora... A
Palavra escrita e sua proclamação permanecem verdadeiras mesmo quando não temos sentimentos
espirituais quaisquer que sejam eles. Agarre-se somente a esta Verdade com a
tenacidade de um bulldog.
Se fizer assim, sua vida
estará protegida contra o erro e as heresias que se multiplicam aos milhares em
nossos dias; e estará pronto para enfrentar todo o sofrimento que Deus achar
necessário para sua vida.
Tudo isso que vimos,
acontece porque somos cegos. Nós só conseguimos ‘enxergar’ um pequeno pedaço do
quadro todo – como aqueles cegos com seu elefante. Não Podemos ver o futuro –
nem devemos tentar. Sequer conseguimos enxergar todo o presente! Nós não
sabemos o efeito que nossas ações, quando não submetidas a Palavra, irão ter.
Na verdade, seria mais fácil para um cego descrever um elefante do que qualquer
um de nós ver bem e compreender os caminhos de Deus... Mas isto não faz mal.
Imagine se alguém com
visão perfeita encontrasse os cegos discutindo sobre a aparência do elefante.
Essa pessoa poderia descrever o elefante como ele é. Talvez os cegos não
acreditassem nele (será essa a sua situação? ) mas se escutassem, sua descrição
daria sentido a tudo.
É exatamente isso que
Deus faz conosco. Ele nos diz – e somente na Sua Palavra (externa) – a verdade,
e então como os olhos dos discípulos em Emaús, começamos a enxergar – tudo faz
sentido – Essa vida é a que Deus ordenou para nós – confiança absoluta apenas
na Sua Palavra (externa) – e nós bradamos com os Reformadores – Sola
Scriptura!! – O novo coração que se
deleita na Palavra somente não precisa de um Cristo moldado ao gosto do
coração do mundo que não pode ver nEle beleza alguma, mas pode ver e dizer: “O Verbo virou gente e habitou entre nós e
vimos sua glória como a glória do unigênito do Pai”